terça-feira, 3 de novembro de 2009

O cão do Barrocal Algarvio no Jornal do Algarve


O cão do Barrocal Algarvio no Jornal do Algarve


Entrevista de Sofia Cavaco Silva

Depois de determinadas cinco linhagens a associação mergulhará na investigação genética

Cão do Barrocal Algarvio no rasto do reconhecimento

A confirmar-se geneticamente que o cão do Barrocal Algarvio é uma raça completamente diferente do podengo ou outra raça que lhe possa ser atribuída, o Algarve garantirá mais uma raça própria que não poderá ser reivindicada por outros. Segundo os fundadores da Associação de Criadores do cão do Barrocal Algarvio, depois de concluído este processo e dadas as características do animal, a sua proliferação pelo mundo fora, envergando o nome Algarve será uma realidade incontornável. Um património da região que ficará garantido mas que não tem obtido grande atenção das entidades oficiais


Com uma presença no Algarve cuja memória oral das gentes do interior da região fazem recuar pelo menos duas centenas de anos, o Cão do Barrocal Algarvio só passou a ter este nome depois da entrada no novo milénio. Neste momento, este cão continua a ser divulgado, criado, reproduzido e promovido pela Associação de Criadores do Cão do Barrocal Algarvio, uma associação sem fins lucrativos e cujo objectivo passa pelo não deixar perder uma raça algarvia que consideram ter características extraordinárias e nem deixar que ela seja reconhecida como raça noutro país. “Temos a convicção que é um cão diferente dos outros”, refere Rogério Teixeira, um dos membros fundadores da associação.

Actualmente a associação conta com pouco mais de uma dúzia de sócios e está a criar as condições necessárias para que a raça seja reconhecida pela Associação Portuguesa de Canicultura. Para que se concretize esse reconhecimento é preciso que existam pelo menos duzentos exemplares sem misturas com outras raças e têm de existir pelo menos cinco linhagens diferentes.

De acordo com os entrevistados, Rogério Teixeira e José Afonso Correia, deverão existir actualmente perto de mil cães, mas só contam os que provarem através de análises de sangue que não têm relação de consanguinidade e tenham linhagem identificada. “Estamos a tentar identificar as linhagens para fazer os cruzamentos”, refere Rogério Teixeira recordando que já foram feitas algumas análises na Universidade do Algarve. Os resultados obtidos que incluíram 15 cães indicaram que 11 deles eram precisamente iguais e totalmente diferentes dos resultados existentes de outros animais. Resultados que vieram trazer mais ânimo ao grupo de criadores.

Em entrevista ao Jornal do Algarve, Rogério Teixeira sublinha que o trabalho que vêm desenvolvendo visa “assegurar o cão enquanto raça algarvia, património do Algarve. Precisamente para não dar azo a que aconteça o que aconteceu com outros cães portugueses que aparecem noutros lados com o nome desses países como é o caso do cão de água espanhol, quando segundo se diz o cão de água era todo do Algarve”.

“Temos a convicção que é um cão diferente dos outros”

Com presença assídua na Feira de Caça e Pesca do Algarve, a associação tem vindo a trabalhar para conseguir delinear de forma clara as linhagens e perceber as características de cada animal para perceber os traços que definem este cão. Nesse sentido, têm percorrido o Algarve de uma ponta à outra para procurar mais exemplares. “O número de exemplares à partida era exíguo; No entanto, o trabalho intenso de procura para localizar mais animais por toda a região deu frutos”, refere a associação no seu espaço virtual (www.caodobarrocalalgarvio.com). Por outro lado, desde 2004 que dois especialistas têm vindo a fazer recolha de diversos dados sobre vários cães do barrocal que são apresentados.

Estudos morfométricos, recolhas de pêlo, fotografias e outras observações têm sido reunidas por estes especialistas que futuramente pretendem disponibilizar estes dados para a elaboração do derradeiro estudo científico que irá determinar se o cão do barrocal é ou não é uma raça única e não apenas uma sub-raça do podengo como, de resto, também existem alguns defensores.

“Que há representatividade, alguma homogeneidade de tipo, dedicados e apaixonados criadores é um facto, mas não chega”, referiu Jorge Rodrigues, juiz de exposições de cães de parar e de raças portuguesas na última Feira de Caça e Pesca e do Mundo Rural. Apesar de deixar as certezas para depois de concluídos os estudos genéticos, este especialista pensa que a História pode dar um contributo importante para esclarecer e justificar a presença de uma raça diferente que não possa ser considerada uma sub-raça dos podengos. Recordando que o Algarve foi ocupado por árabes entre 711 e 1249. “Para esses povos que em geral designamos de Mouros ficaram por cá, miscigenados com as populações da Reconquista (moçárabes). Para a religião islâmica professada por estes árabes invasores, os cães eram considerados impuros, mas havia uma excepção – o Saluki – considerado uma dádiva de Alá e que já era representado pelos Sumérios cerca de 7000 anos a.C. e considerado pelos egípcios o Nobre. O Saluki é um galgo ligeiro de pêlo curto, tem um crânio estreito e focinho pontiagudo, orelhas caídas abundantemente peludas, membros felpudos atrás e a garupa algo descaída com os ossos ilíacos salientes; a cauda é felpuda e enrola um pouco”, refere o especialista. Em tom de graça diz que este seu raciocínio pode não passar de uma estória, mas remata: “mas a História confere-lhe fundamento”.

Apesar das confirmações e incentivos que a associação tem vindo a receber ao longo dos anos, os seus sócios continuam a sentir que esta tem sido uma luta solitária que as entidades oficiais da região não souberam até agora abraçar.

“Não percebo porque é que os políticos não nos apoiam, porque isto promove o Algarve. Realmente já toda a gente fala do cão do Barrocal Algarvio e o algarvio está sempre associado”, refere Rogério Teixeira. Se ao nível das candidaturas para as autárquicas dizem ter sido convidados a reunir com um candidato, lamenta que o interesse não seja mais alargado e inclua, por exemplo, os recém eleitos deputados da Assembleia da República pelo Distrito de Faro. Garantindo que não estão nesta luta por dinheiro mas sim por paixão, lamentam que o trabalho científico relativo à identificação da raça não possa ser co-financiado com fundos comunitários ou nacionais.

Independentemente do modo como as entidades oficiais olham para o cão do barrocal, a associação vai continuar a sua luta. “Nós gostamos do cão e do que estamos a fazer. Portanto, não desistimos às boas”, garante José Afonso Correia acrescentando que “o cão sempre existiu e vai continuar a existir cá no Algarve”.

CAIXA

Como reconhecer um Cão do Barrocal Algarvio

Principais Qualidades: Excelente companhia, cão de guarda e de caça tanto para o coelho como para a perdiz e até para o Javali. Dinâmico, perspicaz, rápido e demonstra óptimo relacionamento com as crianças.

Cabeça: bem levantada, leve e fina com stop ligeiramente pronunciado. Crânio ligeiramente mais curto que o chanfro nasal;

Olhos: semi-oblíquos em forma de amêndoa, devido à grande intensidade solar que se faz sentir na região que lhe dá origem. O castanho é a cor predominante.

Orelhas: Com implantação alta, erectas e pontiagudas em forma de pirâmide;

Pescoço: Seco e de médio comprimento;

Linha Dorsal: semi-arqueada;

Tórax: de média profundidade, chegando aos codilhos ou ligeiramente mais abaixo, o que lhe permite grande resistência na caça;

Membros: secos, forte e aprumados;

Ventre: l.igeiramente arregaçado;

Cauda: comprida, chegando abaixo dos corvilhões, de pelo liso e comprido que em acto venatório ou alerta, forma uma bandeira;

Pêlo: liso e médio, muito macio, sem sub-pêlo, razão pela qual é designado de Felpudo, Lanudo ou Fraldado;

Cores: Mais frequentes são amarelos (claro, escuro e fulvo), preto, castanho (claro e escuro), branco unicolor ou malhado, conjugando qualquer das cores anteriores;

Altura: Macho - 45/55 cm ; Fêmea – 40/50 cm

Peso: Macho 20/25 kg ; Fêmea 15 / 20 kg.


1 comentário:

  1. Antes de mais o meu profundo agradecimento a quem se dedica a salvaguadar este importantíssimo património que representa este cão. Não só património biológico que esta raça demonstra mas também cultural pela associação às gentes, e seus costumes, que a criaram, como também histórica pois pelo percurso feito pelos animais que sempre nos acompanharam também vemos mais claramente os percursos que a humanidade empreendeu ao longo dos tempos. E este é claramente um cão mediterránico... Apenas uma correcção, ao contrário do que habitualmente se fala a península mais do que ter sido ocupada por árabes, foi-o por mouros que não sendo árabes habitavam e habitam o norte de áfrica, muitos deles acabaram por ser "arabizados" aquando do avanço do islão. Sendo o termo mouro de origem latina por designar os habitantes da mauritánia uma das então provincias romanas do norte de áfrica ( não confundir com a actual mauritánia) e moçárabes não são as populações resultantes da mistura das populações da reconquista com os habitantes mouros que terão ficado, mas sim os sobreviventes cristãos ás invasões islámicas mouras que ficaram a viver sob o domínio politico do islão. Portanto populações com origem anterior à invasão islámica. Tudo isto é importante para a origem deste belo animal porque dado que a história do mediterráneo é muito anterior ao periodo"árabe" tal como os movimentos de povos e gentes por este espaço a origem deste cão pode ser muito mais antiga. Roma estendia-se desde o médio oriente a marrocos e á peninsula ibérica passando pelo egipto... fenícios, cartagineses e gregos navegaram, fizeram comércio e estabeleceram-se por todos estes locais. Os movimentos de gentes por estas paragens são bem mais antigos e os animais sempre nos acompanharam...

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